PHILIPPE DE SOUSA
Boîte à Petits...
PHILIPPE DE SOUSA
Boîte à Petits... CD audEo 0405
Philippe de Sousa - guitarra portuguesa, guitarra clássica, guitarra sem trasto, cavaquinho, contrabaixo, xilofone, percussões Eric Vinagre - violino Gravado de março a julho de 2001 no estúdio BopCity (França), exceto o tema «Étude Pour Boîte à Petits...», gravado pelo autor Técnico de gravação: Max Jesion Mistura e produção: Max Jesion e Philippe de Sousa Remasterização de «Étude Pour Boîte à Petits...»: Fernando Rocha, AuraStudio (Portugal), 12/2001 Composições e arranjos: Philippe de Sousa (SACEM) Texto: João Paz Tradução (para francês) e revisão: Margarida Menezes e Fabienne Huygevelde Fotografia: Franco Zecchin Design: Gonçalo Calheiros Produção executiva: Luís Freixo EAN 0752725020923 Agradecemos a todos os que mencionámos e também ao Ilídio Moreira, Vitorino Almeida Ventura e Chris Cutler. Também a Bernardo Calheiros, por nos ter feito acreditar. Reservados todos os direitos do produtor fonográfico e do proprietário da obra gravada, sendo proibida a duplicação e a utilização não autorizada desta obra, no todo ou em parte.
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Talvez ainda não se falasse disso há meio século mas o mundo era já uma grande aldeia...
Se qualquer amigo meu nascido nos sixties me citasse os Beatles, Françoise Hardy, Amália, Gismonti, Piazzolla ou mesmo Kusturica, afirmando que estas eram as suas referências culturais, jurando que tinham deixado marcas indeléveis nas suas raízes musicais, eu não acharia isso nada de extraordinário. Mesmo no campo da música erudita é hoje muito fácil encontrar intérpretes de calibre internacional que testemunham esta realidade. Aliás, deixem-me que vos diga que se abriram há muito as comportas e catalogar , hoje, é profissão de risco. Muito daquilo que nos formou, que nos marcou e marca ainda, chegou-nos pela rádio, pelo cinema, pela televisão, pelo vinil, pelo compact disc. As nossas referências são apenas o que de tudo podemos reter, as nossas memórias e afectos, os nossos sonhos de um dia ser; um filme visto três vezes, trinta LPs, e um livro e meio de trezentas páginas. E, depois das grandes editoras e estúdios, dos gravadores de bobine, sem que déssemos por ela, estávamos sentados à frente de um multipistas em cassete, guitarra na mão, exultando com os nossos ensembles a solo. E depois passamos a donos e senhores das nossas maquetas, pudemos trilhar os nossos caminhos, e atrevemo-nos a eleger o singular, arrojadamente. Estas coisas nem são assim tão complicadas... difícil é, no fim de contas, descobrir uma identidade genuína quando há tanto que explorar, encontrar os deuses das pequenas coisas, amassar o bolo carinhosamente, ter uma mensagem e o desejo de a partilhar. E depois devolver ao oceano o que somos e quem nos fizemos, sem submergir. Esta «Boîte à Petits...» de Philippe de Sousa é assim, quero dizer, é daquelas coisas que nos tocam nos nervos adormecidos. Não é apenas um belíssimo título sobre uma capa pungente, mas antes uma viagem pitoresca de caderno de apontamentos na mão, pelos quatro cantos do mundo. São postais ilustrados, ocres e sanguíneas, tequillas e bagaços, feiras e estradas poeirentas, pés descalços e carroças, uma canción de cuna, um corridinho e... um copinho de vinho branco. É um disco de tentações e aventuras, percussões e guitarras, muitas; é um disco de música popular, não de um, mas de vários povos a poderem clamá-lo como seu; é um disco de um porto seguro, a guitarra portuguesa. E é bom escutá-la, cantando fluente em tanto idioma insuspeitado, plena de citações sem recurso a itálicos. Puro e duro. E sabe-me sempre bem, cada vez mais, cruzar caminho com discos pouco polidos, sem cuidados com receitas ou aspirações a coisa terminada o que, aliás, não passa de uma miragem. Quem já pôde acompanhar de perto a via sacra que leva um compositor do esboço de um tema ao expositor de uma discoteca sabe que é assim: a essência de uma boa ideia nem sempre - para pôr o caso de uma forma optimista - chega intacta ao seu destino. Neste aspecto, «Boîte à Petits...» - o tema que abre e encerra esta caixinha de surpresas - é um verdadeiro mimo, quase de sabor arqueológico, melhor, de regresso em tarde de chuva ao sótão dos brinquedos. Neste tema o cavaquinho exibe sintomas do que parece ser uma desafinação crónica, mas não duvidamos da sua madeira; a percussão sim, um pouco trôpega, mas tropegamente e em tudo humana; o tema singelo, pois, mas mesmo assim um genuíno e alegre trineto do «Canon» de Pachelbel. Depois vem «Carrocel» e a coisa fica séria. O «Carrocel» é um desafio de prestidigitação (e o senhor que adivinhar quantas voltas ele dá, pode levar a boneca...); a segunda faixa do disco é um tema puramente lúdico e estonteante, positivo, ligeiro, e contudo deixa bem explicado o extenso currículo de Philippe de Sousa como instrumentista, e toda a sua formação no domínio da composição e da guitarra portuguesa. Juntar numa mesma faixa tanto sumo, como se costuma dizer, é obra. Depois há mais, e mais... Não se trata de um disco perfeito concerteza, tem muitos altos e alguns baixos, mas é consistente - não no projecto, pois não acredito que a palavra se adeqúe -, mas na impressão que deixa. As suas imagens perduram e, lentamente, insinuam-se na memória. E um belo dia damos por nós sentados no autocarro a divagar pela janela e a trautear uma coisa... conheço tão bem... Como dizia Valéry, «não retive nem o melhor nem o pior dessas coisas: ficou como pôde.» E isso é muito bom. João Paz Violinista, compositor e guitarrista Concertino, director artístico e musical da Orquestra Antiga de Cordas (Porto) |
A Trompa
Filho de pai português e mãe francesa e tendo vivido até aos 10 anos em Portugal, Philippe de Sousa nasceu em Gien (França), em 1974. Tendo iniciado a sua actividade como músico em 1992, no espectáculo «Paranda Oulam» de Roger Després (guitarra clássica, cavaquinho, percussões) é em 1993, quando integra o grupo Mala Junta, que começa a ganhar notoriedade como guitarrista clássico. Depois disso e após participar em variados grupos, alguns como contrabaixista, Philippe de Sousa integra também o grupo de guitarristas da cantora Bévinda, agora, tocando guitarra portuguesa. “Boîte À Petits…” mostra a extraordinária versatilidade deste artista luso-francês… a descobrir, rapidamente. Rui Dinis Mondo Bizarre De tanto labor resulta, como seria de esperar, uma tapeçaria muito pessoal. Felizmente a sensibilidade do músico investe as melodias de um apelo global, algures entre melancolia comedida e uma inocência feliz. Repleta de floreados bonitos como já não se usam, entre uma aura erudita e um apego popular, esta música é refinada e descomprometida, para brincar nas nuvens. Nuno O. Catarino O Primeiro de Janeiro Com o mesmo enternecimento, Philippe acolhe a saudade chorosa do fado tradicional, a cadência do corridinho algarvio, a sedução temperada do tango, o embalo melancólico das canciones de cuna, as mágoas e pesares da América Latina, o floreio estético do klezmer, os aromas do folclore dos Balcãs, o arrojo experimental do jazz e a amplitude sonora da música de câmara. A.C. ReR Megacorp Pieces for Portugese guitar, classical guitar, fretless guitar, contrabasse, xylophone, and percussion, with occasional violin. All played by de Sousa (except the violin), always overdubbed in small string orchestras, sometimes piled up like a zither. An excellent, deeply musical record, tuneful and exquisitely played; always very Portugese in flavour, but with an edge. Detuned moments are perfectly placed, and always contained in sharp, focused composition. |