VITORINO ALMEIDA VENTURA
Máquina de escrever, voz
Vitorino Fernando Almeida Ventura nasceu no Porto (Portugal), em 1962.
Na infância, aprendeu com António Domingues Ventura, seu tio paterno, ritmo e poesia, lendo os clássicos. Na adolescência, praticou futebol nas escolas do Futebol Clube do Porto, tendo sido campeão nacional de iniciados, em 1977-78. Como jovem adulto, pela década de 80, colaborou com o jornal O Comércio do Porto, demorando-se num trabalho sociológico em torno dos clubes amadores da área metropolitana. Dessa altura, ainda, alguns dos seus exercícios literários jazem dispersos em fanzines, como o Opinião, Critério, Espiral, Minimal, Zundap e A Palavra é um Vírus, tal como nos suplementos DN Jovem e Brétema. Licenciado em Direito pela Universidade Católica Portuguesa, em 1985, nunca exerceu. Nem concluiu o Curso de Composição do Conservatório de Música do Porto, mas assim mesmo obteve habilitação suficiente para lecionar Educação Musical ao 2º Ciclo, no ano letivo de 1986-87. Enquanto membro do projeto de garagem Falo Quente, obteve o prémio das Melhores Letras a Concurso, no 1º Festival Luso-Galaico de Rock ao Vivo, no Luís Armastrondo, em 1988. Logo depois formaria o grupo U Nu, que obteria a menção de "Um dos discos do Ano" no Público, em 1994, com o álbum “A Nova Portugalidade”. Licenciado igualmente em Literaturas Modernas, variante de Estudos Portugueses, nesse mesmo ano, recusou um convite para assistente de Literatura Portuguesa da Universidade Autónoma de Lisboa. Mais, em 2001 moderou em Seminário Super Bock Super Rock, na FNAC de Santa Catarina (Porto), o colóquio “O futuro da música passa pelos músicos?”. Aliás, nessa primeira década do séc. XXI, dedicou-se a um Plano Nacional de Leitura marginalizada, com ações para docentes nos centros de formação da Maia e de Valongo, assim como para jovens, em bibliotecas municipais. Conferenciou também na Faculdade de Letras de Lisboa, sobre as "Poéticas do Rock", em abril de 2009, e fez parte da Comissão de Honra do Douro Film Harvest, em 2009 e 2010. |
Bibliografia e discografia
1989
1994
1998
2000
2002
2006
2007
2014
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Depoimentos
Vitorino Almeida Ventura, ou simplesmente o Vitorino, de quem sou amigo há muitos anos, pediu-me para fazer o depoimento de apresentação para a sua página. O que recusei, inicialmente, mas acabei por aceitar no plural, citando-me e citando outros que, ao longo desses tantos anos, contribuíram para este (seu) retrato, que se quer amplo e fiel. Ramiro Teixeira, por exemplo, fala-nos, na crítica ao seu primeiro livro, de 1989, "Da Cidade e Deste Corpo", de um «bizarro estilo, entre o dramático, o cáustico e o irónico», em «escritos de difícil catalogação (contos?, reportagens?, apontamentos?), alguma coisa bem mais singular do que o género utilizado para o relatar» e estava certo, pois foi isso o que já se encontrava, por exemplo, nos textos do seu grupo musical Falo Quente e se confirmaria ao longo dos anos, quer no que escrevia, quer no que lhe interessava como corpo de dissecação para análise de conteúdos, em ensaios sobre a escrita de outros. Depois veio a genial "A Nova Portugalidade", em disco do seu grupo U Nu e desse disse, por exemplo, Fernando Magalhães que era «uma autêntica pedrada no charco. Originalidade, inteligência, cuidado máximo na produção e na apresentação, num disco onde pela primeira vez músicos portugueses ousaram filiar-se na chamada “estética Recommended”.» E dito por quem disse, era seguramente um disco mais do que recomendado, como eu mesmo o pude comprovar e repercutir, inclusivamente além-fronteiras, ao propiciar a inclusão do grupo num volume da antologia suíça "Point Of Yucca". Algum tempo depois, o escritor Vitorino Almeida Ventura volta a mostrar a sua escrita, criando um volume 2 da obra que alguém já tinha intitulado de "Memórias de Ansiães" (relativa a Carrazeda de Ansiães, a terra de berço dos seus progenitores). Fernando Castro Branco leu e escreveu que o livro é «uma expressão literária originalíssima e rica de nuances expressivas, sobressaindo nítida por entre a espessa ramificação da nova ficção portuguesa.» E diz também, logo depois, que «Vitorino Almeida Ventura revela-se como uma voz estética multifacetada e uma consciência criativa aguda e abrangente, onde, em todas as circunstâncias, assistimos à pletórica aventura da linguagem, sem cedências estéticas ou éticas de nenhuma ordem a qualquer que seja a instância judicativa.» O escritor, cantor e compositor de canções quis, também, olhar para as canções dos outros, daqueles que o motivavam a ouvir e ler. Ler as letras como poesia e falar delas ou, melhor, escrever sobre isso mesmo: "As letras como poesia" e, logo, sobre a poesia que essas letras contêm. Seguramente não foi por acaso que o também escritor, editor e até músico Valter Hugo Mãe disse, sobre isso, que «Estamos perante um verdadeiro ensaio pirotécnico.» Que se ponha à prova quem ainda não o fez, mas que fique minimamente advertido dos garantidos "fireworks". Aliás, Fernando de Castro Branco diz ainda depois, já sobre a nova obra "Crónicas de Sancho Pança", que o livro é «Tórrido, corrosivo, ondulante, sarcástico, não raro de mestria exímia, por um verdadeiro malabarista verbal, que renova o falar banal. Classificá-lo enquanto texto é mais difícil. Poema, sem dúvida.» E que «A vertente musical do autor enforma de tal maneira a sua escrita, que às vezes o ritmo é excessivo para o meu ritmo de leitor (e de poeta). Ou seja, parece que a todo o momento lhe vai cair uma música em cima.» Para terminar esta apresentação do autor, cito-me a mim mesmo, da parte final do posfácio que escrevi para um dos seus livros, retratando-o como o conheço: «Vitorino Almeida Ventura usa, de modo radical, o estranhamento como uma espécie de estratégia comunicativa, tanto a nível semântico, quanto formal: quebras de linha para sustentar melhor a densidade textual, variação de caracteres tipográficos para sublinhar segmentos, colocação de espaços vazios [underscores] para o leitor preencher de pequenas palavras, de sentidos únicos... Reticências que cortam a narrativa, inserção de (outros) versos livres como variações maiores na interpretação dos autores, interrogações retóricas e mais: que permitem a própria fragmentação diversificadora de sentidos!... É um clima de estranheza, provocado em local nunca antes percorrido. Mas faço um convite directo ao leitor, como sendo um recitador de poemas, não parando aos entraves da pontuação, mas antes percorrendo de fluxo contínuo todo o texto. E o clima torna-se de estranho em novo para que, numa interpretação mais concretista, se seja possuído por imagens novas, em torrente.» E concluía assim: «Vitorino Almeida Ventura é um dissecador de poemas e um fabricante de enigmas. Dos que contêm respostas para outros que vai desvendando, na sua atenta e original viagem ao longo de uma escuridão, semelhante àquela que Orfeu atravessou. Dele se espera que continue, como até aqui, a resistir à tentação de olhar para o seu público e que, em pleno exercício de independência e perseverança, nos faça sempre ver a luz de um Sol radiante e libertador.» Luís Freixo |