AMÉRICO RODRIGUES
O Despertar do Funâmbulo
AMÉRICO RODRIGUES
O Despertar do Funâmbulo CD audEo fds002
Américo Rodrigues - voz, poesia sonora, flauta eunuca José Oliveira - percussão Rodrigo Pinheiro - piano Gregg Moore - trombone, tuba Élia Fernandes - harmónio, piano Nuno Rebelo - guitarra eléctrica, electrónica José Galissa - kora Jean-François Lézé - percussões aquáticas, percussão Patrick Brennan - saxofone alto Nirankar Khalsa - flauta, percussão, assobios Direitos reservados por Américo Rodrigues (SPA) Gravado ao vivo, excepto «Estilhaços» que foi gravado em estúdio Produção: Miguel Rainha Masterização: Helder Brazete Desenhos originais: Maria Lino Tratamento de desenhos e grafismo: Sérgio Gamelas Produção executiva: Luís Freixo Agradecimentos: Catherine Daste, Élia Fernandes, Miguel Rainha, António José Silva/RUC, José Alberto Ferreira, Albrecht Loops, Sérgio Gamelas, Maria Lino, Galeria ZDB, Teatro Viriato, Enzo Minarelli, Philadelpho Menezes Reservados todos os direitos do produtor fonográfico e do proprietário da obra gravada, sendo proibida a duplicação e a utilização não autorizada desta obra, no todo ou em parte.
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A história da poesia sonora divide-se entre quem usou a palavra na sua integridade (vejam-se os Futuristas italianos e os Dadaístas) e quem a violou, aniquilando-a e reduzindo-a a pura papa fonética (vejam-se os Futuristas russos e os Letristas, até aos produtos típicos da poesia sonora da era do pós guerra).
Ora, o caso de Américo Rodrigues é, sem dúvida, interessante por múltiplas razões. Diga-se desde já que o seu trabalho se enquadra, sem dúvida, dentro do segundo filão. Mas há que ter muita atenção ao avaliar a fundo o seu esforço sonoro, porque é de facto um verdadeiro esforço. Basta ouvir os seus CDs e ver a sua performance para compreender que o seu é um verdadeiro esforço corporal. Não estamos perante exemplos de linguagem triturada, ele não tem necessidade de partir da linguagem, não precisa. Neste sentido podemos dizer que amplifica algumas intuições já tidas por Hugo Ball ou Raoul Hausmann, no início do século: o potencial é bucal. E, de facto, Américo Rodrigues mostra a musculatura da boca, todos os ruídos que o aparelho bucal pode fazer. É o próprio corpo que fala a sua linguagem primitiva, numa situação pré-babélica, onde o tudo e o nada se tocam. No seu caso a parte física da voz é o próprio corpo. A sua procura é canalizada para os extremos de um Jaap Blonk ou de um Nobuo Kubota e para o já feito por um Paul Dutton ou Valeri Scherstianoj. E, deste ponto de vista, está perfeitamente legitimada. É de notar que o seu trabalho tem uma ponta de agressividade que, em nosso entender, é necessária para desenvolver um forte impacto no ouvinte-espectador. Estamos, por fim, felizes que da terra lusitana, através de um trabalho raro de poesia sonora, tenha finalmente nascido um poeta semelhante que desdobra a poesia sonora, de um modo tão puro e tão original, sem suportes electrónicos (como era o caso da vídeo-poesia de Melo e Castro) e sem suportes visuais (como nas performances de Fernando Aguiar). Na verdade Américo Rodrigues entrega-se ao poder da sua garganta, sem truques nem enganos, para encantar, estontear e seduzir o público. Enzo Minarelli A poesia sonora de Américo Rodrigues se inscreve na linha da poesia fonética, cujas origens, situadas nas vanguardas históricas, estão sendo hoje revisitadas. A poesia fonética atentava para as particularidades sonoras que os fonemas possuíam e procurava criar com eles combinações sonoras que prescindiam da existência das palavras. Uma variação dela se deu no "grito ultraletrista" dos anos 50, em que as possibilidades do aparelho fonador eram exasperadas e levadas a extremos. A poesia de Américo Rodrigues se insere positivamente dentro dessa tradição, mas sua contribuição não é mera continuidade mecânica. Américo Rodrigues está primeiramente inventando a poesia portuguesa que, assim como no Brasil, graças ao concretismo, inexistiu no percurso da experimentação poética. E a sua invenção da poesia sonora portuguesa trás ao menos três características ricas que se interpenetram: a apropriação de um ruidismo tipicamente contemporâneo, ligado ao som da voz gritada no universo dos espectáculos de música de massas; a sensibilidade rítmica de trabalhos construídos sob influência de uma fala ibérica em que se combinam as línguas neolatinas com a pulsação da fala e do canto árabe e mourisco; a prática de trabalhar a poesia versificada como fonte de produção de poemas sonoramente experimentais. A poesia sonora portuguesa, assim, sob invenção e intervenção de Américo Rodrigues já se projecta como evento particularmente enérgico e vivo no ambiente da poesia sonora internacional. Philadelpho Menezes |
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Há pouco mais de um ano, a propósito de um espectáculo de Américo Rodrigues, expressei o voto de que a efémera experiência desse trabalho nos chegasse fixada e reprodutível num contemporâneo cd. ... Eis que se lança, finalmente, um registo gravado do seu trabalho, também o primeiro editado em Portugal nesta área. ... Mas nada de ilusões ou alarmes: o trabalho de Américo Rodrigues, recusando esgotar-se em fórmulas simples, continua a afirmar-se como trabalho poético, alquimia de cadências onde palavra e voz sempre se cruzam. ... Creio ser este o momento ideal para sublinhar o ganho expressivo que decorre das específicas circunstâncias de produção a que a poética sonora de Américo Rodrigues se submete, isto é, as que resultam da contaminada relação com as linguagens do palco e as da música, contaminação nunca enjeitada pelo autor. ... Em Portugal, Américo Rodrigues ocupa assim um lugar que bem pode e bem merece ser apontado como único. Sem reproduzir fórmulas, antes procurando sempre reinventá-las... ... É hora de ouvir o despertar do funâmbulo. José Alberto Ferreira Jornal de Letras Organizador do Festival Ó da Guarda, um dos três actualmente dedicados em Portugal às músicas experimentais, responsável do grupo de teatro Aquilo e um particularmente activo animador cultural na edilidade da Guarda, Américo Rodrigues tem-se destacado também pela forma invulgar como associa a poesia fonética com o canto improvisado. Nesta estreia discográfica, quase só constituída por temas interpretados ao vivo, encontrámo-lo em diversos contextos instrumentais, proporcionados por músicos como Gregg Moore, Nuno Rebelo, José Galissa, Jean François Lézé e José Oliveira... ... A abrangência da opção é um dos (muitos) pontos fortes do trabalho, sempre balizado entre a visceralidade de um Phil Minton e a glossolália de Jaap Blonk. Rui Eduardo Paes No Man's Land Mit Unterstützung verschiedener Musiker entführt uns Americo Rodrigues in seine Welt der Sound Poetry, diein der Tradition der italienischen und russischen Futuristen und der Dadaisten steht. Rodrigues gebraucht keine Texte in irgendeiner Sprache, er nutzt eine primitive Sprache wie in einer Nach-Babel-Situation, wobei er jedoch desöfteren die Sprachmelodien einzelner Sprachgruppen (arabisch, maurisch, iberisch,...) einfließen läßt. Ähnlich Jaap Blonk, Nobuo Kubota, Paul Dutton, Valeri Scherstianoj und Phil Minton lotet er die extremen Möglichkeiten der menschlichen Stimme aus. O Interior Metamorfoses vocais, improvisações musicais, materializações na e pela voz, inquietações poéticas, estilhaços sonoros. De tudo isto e de algo mais é feito o corajoso primeiro disco de poesia sonora editado em Portugal - «O Despertar do Funâmbulo». ... Américo revela-se um notável «intérprete de voz». O registo «O Despertar do Funâmbulo» é pois um corolário de intrincados jogos semânticos, de erupções viscerais de intensidade (dramática, até) no «sentir» e no «dizer» a poesia, de libertação da linguagem (e a «linguagem é um vírus», dizia a performer/cantora Laurie Anderson). A improvisação musical é apoiada por um naipe de inventivos músicos com os quais Américo tem colaborado nos últimos anos e que possuem o instinto certo de complementaridade com o trabalho do poeta. Victor Afonso Rubberneck If you're used to the feral disturbance of Phil Minton or the in-your-face imagination of Jaap Blonk, then the sound poetry of Américo Rodrigues may seem pretty tame. But immerse yourself in the varied influences from Portuguese, other European or African cultures and the way he plays with the sound of language. Gus Garside Terras da Beira A apresentação do "Despertar do Funâmbulo" foi feita por José Alberto Ferreira, professor na Universidade de Coimbra, um estudioso recente da vertente sonora da poesia. José Alberto Ferreira descreveu o trabalho de Américo Rodrigues como a «amplificação dos efeitos de uma fugaz experiência da poesia sonora». Em jeito de metáfora considerou ainda que «a Musa da vulnerabilidade conduziu os seus passos em direcção à voz, o lugar onde se encontra mais autêntica». Nas palavras do professor, e tendo em consideração «a indisciplina da voz e a tradição da letra», Américo Rodrigues mesmo «com medo e incomodidade» avançou para a pesquisa fonética. Assim nasceu o primeiro registo de poesia sonora em Portugal. Maria João Silva The Improvisor My wife is asking me who died as this plays. Billed as "Sound Poetry", it doesn't quite fill the bill. Some of that automatic speaking over top of quite interesting improvised instruments (brass & reeds for the most part). There's no doubt that this can be interesting in a live setting, where the audience often gets to participate, but the spoken stuph is so far into random that it can't pull the listener "in" on a recording. I find spoken-word stuff from madpoet John M. Bennett far more interesting, because there are interjections of words/phrases that allow the listener a reference point... Rodrigues spoken work, while totally "free", gives the you little but energy (tho' there's PLENTY of that). In fact, it's almost to the point where the words actually DISTRACT from what might be a very intersting set of improvised instrumentals. For those into total strange & "grab as ya' go" poetry, there may be some attraction, but it just wasn't my cuppa' mud. You be the judge, I guess. Rotcod Zzaj |